Cyn McCurry - Weekend in the Park |
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Se ao menos alguém te roubasse de mim, eu poderia te amar à distância, com meu anzol de corações, mas não, sei que és só meu, e talvez, serás meu para sempre, no teu silêncio idiossincrásico, perturbador, quase inadmissível, e tuas pequenas fugas de consciência, teus atributos em relação ao mundo, aquela distância em que crias possibilidades de mais altas integrações, contigo mesmo ou com o que te rodeia, e embora eu esteja sempre a teu lado, não sou incluída nas coisas que te rodeiam, talvez por isso mesmo, por estar tão a teu lado que já seja uma pequena parte de ti e não perceba, bálsamo lenitivo infundido na mesma secreção, glândula vária que alimenta a segurança, não em demasia, que se a certeza for muita é capaz de perder o gosto, mas na medida certa do ego, aquele tempero que dá água na boca mas deixa a dúvida de qual especiaria falta uma pitadinha, e até esta semicerteza me incomoda, tanto por não ter o porto seguro onde atracar meu barco de viver eternamente, quanto por saber que este mesmo barco não precisa mais partir para águas nenhumas, não que não precise apenas, mas de uma maneira ou de outra faz-se dar em seco, encalhado num cais a muito não acostável, e se a imagem de única embarcação possível em todo este teu mar vem à tona, o desespero só não se torna maior porque logo me amarro à tua terra, para sentir novamente a tua rejeição doce e passiva, entre beijos fugazes que tentam disfarçar a pressa aparente de uma leitura qualquer, com a ajuda impaciente de um abraço furtivo e desajeitado, como antigamente, nas primeiras vezes, quando eu atribuía todo este mal-estar ao início desjeitoso de todo relacionamento, e na verdade não sei se já me enganava ou me engano agora, não sei se no fundo sempre procurei este equilíbrio entre a certeza de um relacionamento sadio e a insanidade de uma mulher de ninguéns, quanto mais ninguém melhor, ninguém eu mesma, não-alguém, que é uma negativa mais explícita e contrabalança bem com minhas crises de menina-moça-dona-de-casa. E se perguntasses, inquiridor, a quantas anda meu coração, não seria capaz de te dizer, nem a pedaços, nenhuma das minhas insânias, que embora tenhas passado por todas as experiências que eu em sonho nem imagino, não serias capaz de assimilar tanta demência que mesmo eu não posso acolher, ainda mais ante o pavor que a possibilidade do desterro de ti me oferece…
E ainda nem é amanhã.
E ainda nem é amanhã.